sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A morte

“A morte é uma coisa engraçada. Ela vem, leva alguém sem nossa permissão e sempre deixa vestígios para marcar sua presença. Às vezes são lembranças de alguns momentos felizes; às vezes, sonhos despedaçados. Porém o mais cruel dos vestígios é quando ela deixa apenas a saudade de quem um dia você amou.”

por Dii Shefany

Doce

Na vitrine, eles provocam. Todos grandes, fartos, cobertos com os melhores sabores que há no mundo. Deliciosos e tentadores.
O que o doce não faz com a cabeça de alguém... Em meio a tanta variedade logo nos vemos estonteados. De início, desejamos todos eles. No entanto, é claro, sabemos que não há uma maneira de ter todos. É prejudicial, é perigoso. Mas é, mesmo assim, tentador.
Ao fim, chegamos à conclusão de que um único doce pode saciar-nos. Mas por que ter um pequeno bombom se podemor ter uma grande torta? A confeitaria está cheia de prateleiras, estas cheias de doces. Também está cheia de gente, indecisa ou decidida, em busca dos seus doces tão almejados.
Contudo, nem sempre o melhor doce é o maior, nem o mais fácil de se conseguir. Em meio a tantas tortas e bolos enormes dispostos nas prateleiras mais baixas você levanta os olhos e os vê lá em cima. Lá estão eles, em sua simplicidade e ousadia. Pequenos, porém doces, muito doces. Você os deseja mais que uma torta de caramelo, mais que um bolo de chocolate. Mais do que tudo que é mais doce, pois não há o que seja mais doce que eles.
Não é fácil, você sabe. Mas, lentamente, você passa pelas pessoas que estão no caminho e chega à escada. É uma longa subida, porém necessária. Degrau por degrau você sobe, e a cada degrau seu desejo se intensifica. Cada prateleira que passa é uma gota de esperança: sim, você está chegando lá.
E, ao chegar, os contempla. Passaram-se minutos, dias ou anos, mas você os alcançou. É com prazer que estende a mão e apanha um, escolhendo muito bem o recheio, aquele que torna o doce mais doce, se é que isso é possível.
Chegou a hora. A grande hora. Apenas o som do embrulho metálico sendo retirado lhe dá arrepios. Vagarosamente, você dá a primeira mordida. Sim, é fascinante! O gosto do chocolate derretendo em sua boca, o mel arde em sua garganta. E o recheio, ah, o recheio. Era tudo o que você queria, sempre quis. Sua vontade é de rir, de gritar! Mas, mais que isso, sua vontade é de morder mais um pedaço.
É incrível como um doce pode ser tão doce. Você respira mais fundo, seu coração bate masi rápido. Tudo é tão mais bonito à sua volta, tão doce... Seguem-se duas, três, quatro mordidas. É doce demais. Cinco mordidas - é doce demais.
Você já não morde com vontade, já não mastiga tão rápido, já não engole com gosto. É penoso, é doce, doce, enjoativo. Mas deve parar de comer agora? Você continua, a cada mordida uma agonia. Já não lhe faz bem, já não é tudo tão bonito à sua volta. Já não há mais recheio. O doce já não é mais doce, não como era antes. É doce, mas não é mais bom. Você não sabe explicar o que está acontecendo, mas continua comendo, a cada mordida a esperança do doce voltar a ser doce como era antes... E assim permanece, uma mordida atrás da outra, e o crescente desejo daquilo terminar.
Finalmente, a última mordida. Assim que ela acaba você quer mais. Mas não quer aquele doce horrível do final, e sim o doce do início. O doce que você não terá nunca mais.
Você quer sair dali, daquela confeitaria que te confunde, do meio daqueles doces que te enchem de lembranças, se recuperar. Mesmo feito isso, permanece a lembrança: o gosto do doce que, um dia, foi tão bom.

por anaacriis