sábado, 19 de dezembro de 2009

O bolo

Hmm... esse aqui é meio diferente. Espero que gostem, apesar do estilo informal! ueheuheuheuheuheu :*

O bolo

Tinha um bolo que eu queria fazer, muito bom. Não lembro onde estava a receita, só sei que
encontrei e comprei os ingredientes. Não lembro onde comprei, mas não vem ao caso. Receita simples,
mistura tudo e põe no forno. Beleza.
Tirando a parte que eu não estava conseguindo chegar na consistência da massa, tudo ia bem.
Mas o telefone sempre toca nessas horas, parece perseguição.
"Alô?"
"Carla?"
Quem mais atenderia o meu telefone no Domingo? Só minha mãe, e como era ela que estava
ligando...
"Oi mãe."
"Filha, que bom falar com você!"
Hm...
"Pois é, que saudade!"
"Sim..."
Adoro essas conversas produtivas. E eu mexia e mexia a massa e não conseguia o ponto.
Silêncio ao telefone...
"Está tudo bem filha?"
"Uhum."
"Que bom..."
Para que ela ligou mesmo?
"Aconteceu alguma coisa, mãe?"
"Não, não..."
"Erm... Estou meio ocupada, pode me ligar depois?"
"Ah... está bem então..."
Fingi não notar a nota de decepção em sua voz.
"Beijo mãe, tchau."
Desliguei antes mesmo de ouvir a resposta. Porcaria de massa que não chega no ponto! Devia
estar faltando algum ingrediente... Mas eu chequei na receita e estava tudo certo...
Telefone de novo.
"Alô?"
"Carla?"
Hm...
"Sou eu sim."
"Oi Carla! É a Mari!"
Mari? E eu lá sei quem é Mari?
"Sua amiga... Não lembra de mim?"
Não, não lembro.
"Não estou lembrando... Desculpa..."
"Ah, tudo bem! Faz tempo que a gente não se fala mesmo... A gente estudava na mesma sala
no colégio, lembra?"
Ah, a Mari. Lembrei.
"Nossa, é mesmo!"
Silêncio constrangedor ao telefone. De novo. E essa massa que não adiantava mais mexer.
"Então, Carla... Eu estava pensando... Faz tempo que a gente não se encontra, vamos
combinar de sair!"
Ai, droga!
"Vamos, vamos sim. Qualquer dia a gente combina."
Silêncio de novo.
"Não, você não entendeu. Eu tinha pensado de sair, sei lá, amanhã talvez!"
"Não vou poder, desculpa... Eu trabalho até tarde de Segunda."
"Ah... Tudo bem... Eu te ligo outro dia então."
"Essa semana vou estar meio ocupada, viu?"
"Ah... tá. Beijo então."
"Beijo." E desliguei.
Desisti de mexer a massa e pus logo no forno. Vamos ver no que vai dar essa gororoba...
Telefone... Maldição!
"Alô."
"Alô... Carla?"
Não devia ter saído da cama.
"Sou eu."
"Oi querida! É o tio Xará!"
Tio Carlos... E eu nem me chamo 'Carlas' pra explicar esse apelido bobo.
"Oi tio."
"Tudo bem?"
"Tudo."
"Ah, estou bem também, obrigado."
Sempre o mesmo.
"Olha, eu liguei pra te convidar pra um churrasco! Que tal? Você já almoçou?"
Eu estava morrendo de fome. Por isso o bolo.
"Já, já almocei. Talvez uma outra vez, tio..."
"Tudo bem então! A gente se vê!"
"Sim, sim."
Desliguei. Cherio de queimado... DROGA!
O bolo queimou inteiro. E eu não conseguia saber o que fizera de errado. Fui tentar de novo,
mas com menos esperanças de matar a fome naquele Domingo chato.
Surpresa! Telefone! Ninguém merece.
"Alô."
"Oi Carla."
Ah, alguém tem consciência de que esse é o telefone da minha casa e de que eu moro
sozinha...
"Oi Tadeu."
Amigo da faculdade.
"Eu estava pensando... Nós vamos sair de galera amanhã, você quer ir junto?"
Não.
"Ah, não vou poder, desculpa aí..."
"Beleza... Depois a gente combina outro dia."
"Sim, sim, beijo."
Era impressão minha, ou aquela massa estava pior que antes? Aquela receita nem era difícil!
Foi pro forno de novo. Dessa vez fiquei olhando assar, ignorei o telefone duas vezes. Estava tão
concentrada que... o bolo queimou de novo. Como pode isso?
Desisti completamente. Comi qualquer coisa que tinha na geladeira e fui ler um livro. Não gosto
muito de ler, mas não gosto muito de nada mesmo...
Estava um tédio. Tudo.
Eu não consegui me concentrar em nada. Alguma coisa me incomodava, mas eu não sabia o
quê...
Estranhamente, eu estava numa sólidão só. Queria conversar com alguém, podia ser uma
amiga que não encontrava há muito tempo, amigos que via todo dia na faculdade, um tio bobo nun
churrasco... Ou talvez estivesse sentindo falta de um colo de mãe...
Então percebi por que não consegui fazer o bolo. Foi como uma luz na minha alma, me fez
sentir tão bem como não me sentia há muito tempo. Corri, então, para a agenda de telefones.
Liguei para todos que tratei tão mal e para muitos outros. Fiquei muito feliz por ser bem tratada
por todos, significava que eu ainda podia ser perdoada.
Estava marcando um encontro. Àquela noite, em minha casa. Ao desligar o telefone, depois do
último telefonema, me sentia renovada.
Corri, então, para a cozinha. Alguns ingredientes tinham acabado, mas nada iria me parar. Não
agora, que eu finalmente tinha descoberto o 'ingrediente secreto'. Comprei tudo o que faltava e pus-me a
fazer o bolo.
A massa chegou na consistência exata, o bolo cresceu e ficou muito bonito. Eu sentia-me
realizada.
Todos os convidados vieram. O bolo estava delicioso.
É... pelo visto não é só o bolo que precisa crescer.